Dos heróis que cantaste, que restou se não a melodia do teu canto? As armas em ferrugem se desfazem, os barões nos jazigos dizem nada. E teu verso, teu rude e teu suave balanço de consoantes e vogais, teu ritmo de oceano sofreado que os lembra ainda e sempre lembrará. Tu és a história que narraste, não o simples narrador. Ela persiste mais em teu poema que no tempo neutro, universal sepulcro da memória. Bardo, foste os deuses mais as ninfas, as ondas em furor, céus em delírio, astúcias, pragas, guerras e cobiças, lodoso material fundido em ouro. Multissexual germinador de assombros, na folha branca vieste demonstrando e que ao homem, na luta contra o fado, cabe tentar, cabe vencer, perder, e nisto se resume a irresumível humana condição no eterno jogo sem sentido maior que o de jogar. E quando de altos feitos te entedias e voltas ao comum sofrer pedestre do desamado, não te vejo a ti perdido de saudades e desdéns. | Luís, homem estranho, que pelo verbo és, mais que amador, o próprio amor latejante, esquecido, revoltado, submisso, renascente, reflorindo em cem mil corações multiplicado. És a linguagem. Dor particular deixa de existir para fazer-se dor de todos os homens, musical, na voz de órfico acento, peregrina. Que pássaro lascivo se intercala no queixume subtil de tua estrofe e não se sabe mais se é dor, delícia, e espinho, afago, e morte, renascença? Volúpia de gemer, e do gemido destilar a canção consoladora a quantos de consolo careciam e jamais a fariam por si mesmos? (Amaldiçoado dia de nascer que em bênçãos para nós se converteu!) Já tenho uma palavra pré-escrita que tudo exprime quanto em mim se turva. Pelos antigos e pelos vindouros, foste discurso de geral amor. Camões — oh som de vida ressoando em cada tua sílaba fremente de amor e guerra e sonho entrelaçados! Carlos Drummond de Andrade, A Paixão Medida, Ed. Caminho |
Este blogue foi construído por três alunos (António, Ivo e Tiago) do curso profissional Técnico de Produção Agrária (10.º Ano) da Escola Profissional de Agricultura e Desenvolvimento Rural de Carvalhais/Mirandela,no âmbito do concurso nacional "Camões, um poeta genial". Ao longo desta viagem pelo nosso blogue, procurámos apresentar Camões como Poeta lírico e épico, bem como partilhámos três poemas e um breve vídeo construído por nós. Desejamos a todos uma boa navegação!
Apresentação

sábado, 30 de abril de 2011
História, coração, linguagem
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