Apresentação

quinta-feira, 24 de março de 2011

Alma minha gentil, que te partiste

Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida, descontente,
Repousa lá no Céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste.




Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.




E se vires que pode merecer-te
Algũa cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,




Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.



Luís de Camões

Transforma-se o amador na cousa amada

Transforma-se o amador na cousa amada,
Por virtude do muito imaginar;
Não tenho logo mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada.




Se nela está minha alma transformada,
Que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si sómente pode descansar,
Pois consigo tal alma está liada.




Mas esta linda e pura semideia,
Que, como o acidente em seu sujeito,
Assim co'a alma minha se conforma,






Está no pensamento como ideia;
[E] o vivo e puro amor de que sou feito,
Como matéria simples busca a forma.


Luís de Camões

Onde acharei lugar tão apartado

Onde acharei lugar tão apartado
E tão isento em tudo da ventura,
Que, não digo eu de humana criatura,
Mas nem de feras seja frequentado?




Algum bosque medonho e carregado,
Ou selva solitária, triste e escura,
Sem fonte clara ou plácida verdura,
Enfim, lugar conforme a meu cuidado?




Porque ali, nas entranhas dos penedos,
Em vida morto, sepultado em vida,
Me queixe copiosa e livremente;




Que, pois a minha pena é sem medida,
Ali triste serei em dias ledos
E dias tristes me farão contente.

Luís de Camões

Endechas a Bárbara escrava

Aquela cativa
Que me tem cativo,
Porque nela vivo
Já não quer que viva.
Eu nunca vi rosa
Em suaves molhos,
Que pera meus olhos
Fosse mais fermosa.




Nem no campo flores,
Nem no céu estrelas
Me parecem belas
Como os meus amores.
Rosto singular,
Olhos sossegados,
Pretos e cansados,
Mas não de matar.




Ua graça viva,
Que neles lhe mora,
Pera ser senhora
De quem é cativa.
Pretos os cabelos,
Onde o povo vão
Perde opinião
Que os louros são belos.




Pretidão de Amor,
Tão doce a figura,
Que a neve lhe jura
Que trocara a cor.
Leda mansidão,
que o siso acompanha;
bem parece estranha,
mas bárbora não.




Presença serena
que a tormenta amansa;
nela enfim descansa
toda a minha pena.
Esta é a cativa
que me tem cativo,
e, pois nela vivo,
é força que viva

Luís de Camões


Amor é fogo que arde sem se ver

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;




É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;




É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.




Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?


Luís de Camões

Verdes são os campos

Verdes são os campos,
De cor de limão:
Assim são os olhos
Do meu coração.


Campo, que te estendes
Com verdura bela;
Ovelhas, que nela
Vosso pasto tendes,
De ervas vos mantendes
Que traz o Verão,
E eu das lembranças
Do meu coração.


Gados que pasceis
Com contentamento,
Vosso mantimento
Não no entendereis;
Isso que comeis
Não são ervas, não:
São graças dos olhos
Do meu coração.

Luís de Camões

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades


Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já foi coberto de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.

                                                                                                 Luís de Camões


Amor

O amor não é a palavra que o diz.
Amor são dois corpos que se exigem
Porque duas almas são uma.

O amor não é a palavra que o diz.
Amor é o sangue que percorre as veias,
Artérias que confluem no coração.

O amor não é a palavra que o diz.
Amor é estar vivo
E não querer adormecer.
Poema elaborado por:
António Vila Franca
Ivo Sousa
Tiago Conde

Mudança

Gemem os motores anunciando um novo mundo,
Fragores aturdidos que convidam à alienação.
Os messias aclamam o progresso
E a ciência esmaga todas as filosofias.

Enquanto isso,
Uma criança
Nua e suja
Desfalece
No anonimato.
Poema elaborado por:
António Vila Franca
Ivo Sousa
Tiago Conde
O amor…
… é um pecado que não tem perdão;
… é um sentimento que não tem fim;
… é uma música do coração;
… é quando o coração está absorvido por alguém;
… é acreditar nesse sentimento incontrolável;
… é a coisa mais estranha do mundo;
… é o que de melhor há na vida;
… é irresistível, picante e doce ao mesmo  tempo;
… é sonhar;
… é a transformação de um “eu” e ” tu” num “nós”;
… é um lindo horizonte, cheio de surpresas e de aventuras;
… é estar rodeado de sensações e emoções;
… é pensar que a vida é bela e que vale a pena viver;
… é existir um brilho especial no olhar;
… é um fogo que nos consome;
… é tão forte que causa dor e energia;
… é a claridade das coisas;
… é encontrar a nossa cara metade;
… é mágico;
… é partilhar;
… é uma dor que passa com o tempo;
… é o encontro de dois corações;
… é recordar o passado, viver o presente e
 não pensar no futuro.

Poema elaborado por:
António Vila Franca
Ivo Sousa
Tiago Conde

                                                                            Vídeo produzido por:
                                                                             António Vila Franca
                                                                            Ivo Sousa
                                                                              Tiago Conde