Apresentação

sábado, 30 de abril de 2011


    Chegamos ao fim da viagem…


Ao longo desta aventura, que exigiu muito trabalho e dedicação na criação e enriquecimento deste blogue para o concurso, fomos (re)descobrindo Luís de Camões, um Poeta, sem dúvida, genial!
Estamos conscientes de que outros caminhos e trilhos poderiam ser explorados, mas o mais importante é conseguirmos realizar os nossos sonhos, pois, como refere o poeta Sebastião da Gama, "Pelo sonho é que vamos / (...) Chegamos? Não chegamos? / (...)  - Partimos. Vamos. Somos".

Um abraço,
António Vila Franca
Ivo Sousa
Tiago Conde





Camões - a época, o homem e a obra

Wordle: Camões - a época, o homem e a obra


Observação: Para se ver a nuvem de palavras que construímos no tamanho original, deve-se clicar em cima da imagem. Obrigado.

                                                                                                                   Trabalho elaborado por:
                                                                                                                        António Vila Franca
                                                                                                                                  Ivo Sousa
                                                                                                                                Tiago Conde

Jorge Fernando e Ana Moura cantam Luís de Camões

Está quase a chegar ao fim a viagem pelo nosso blogue, mas antes propomos dois fados sobre Camões, o "Príncipe dos Poetas": um cantado por Jorge Fernando e outro por Ana Moura.





Os Lusíadas em BD e em Mirandês

Excerto da revista imaginária feita por Baptista-Bastos a Camões

Na revista Camões, n.OS 2/3 (Ed. Caminho, Set. a Dez. de 1980), editada no âmbito das comemorações do 4.º Centenário da Morte de Camões, Baptista-Bastos publicou uma “entrevista” imaginária em que as respostas às perguntas feitas são versos de poemas de Luís de Camões.
                    
A título de exemplo segue-se um pequeno excerto:
                    
— Camões, você parece ser um homem triste.
                    
— Tudo passei; mas tenho tão presente / A grande dor das cousas que passaram / Que as magoadas iras me ensinaram / A não querer já nunca ser contente.
                    
(Do soneto “Erros meus, má fortuna, amor ardente”)
                    
                    
— Pode definir o amor, você, que foi a ele dado?
                    
— Amor é um fogo que arde sem se ver; / É ferida que dói e não se sente; / É um contentamento descontente; / É dor que desatina sem doer. / É um não querer mais que bem querer; / É um andar solitário entre a gente.
                    
(Do soneto “Amor é um fogo que arde sem se ver”)
                    
                    
— A sua vida foi, portanto, difícil?
                    
— Em prisões baixas fui um tempo atado, / Vergonhoso castigo de meus erros; / lnda agora arrojando levo os ferros, / Que a Morte, a meu pesar, tem já quebrado. / Sacrifiquei a vida a meu cuidado, / Que Amor não quer cordeiros nem bezerros; / Vi mágoas, vi misérias, vi desterros, / Parece que estava assi ordenado.
                    
(Do soneto “Em prisões baixas fui um tempo atado”)
                    
                    
— Mas acredita na permanente transformação das coisas, na transformação do Mundo?
                    
— Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, / Muda-se o ser, muda-se a confiança; / Todo o Mundo é composto de mudança, / Tomando sempre novas qualidades.
                    
(Do soneto “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”)
                    
                    
— No entanto, você, Camões, parece um homem preocupado.
                    
Tanto de meu estado me acho incerto, / Que em vivo ardor tremendo estou de frio; / Sem causa, juntamente choro e rio; / O mundo todo abarco e nada aperto. / É tudo quanto sinto um desconcerto; / Da alma um fogo me sai, da vista um rio; / Agora espero, agora desconfio, / Agora desvario, agora acerto.
                    
(Do soneto “Tanto de meu estado me acho incerto”)
                    
                    

Epitáfio para Luís de Camões

Que sabemos de ti, se só deixaste versos,
Que lembrança ficou no mundo que tiveste?
Do nascer ao morrer ganhaste os dias todos?
Ou perderam-te a vida os versos que fizeste?

   José Saramago, Poemas Possíveis, Caminho

Lápide

Luís Vaz de Camões.
Poeta infortunado e tutelar.
Fez o milagre de ressuscitar
A Pátria em que nasceu.
Quando, vidente, a viu
A caminho da negra sepultura,
Num poema de amor e de aventura
Deu-lhe a vida
Perdida.
E agora,
Nesta segunda hora
De vil tristeza,
Imortal,
É ele ainda a única certeza
De Portugal.

                            Miguel Torga

Camões, grande Camões

Camões, grande Camões, quão semelhante
Acho teu fado ao meu, quando os cotejo!
Igual causa nos fez, perdendo o Tejo,
Arrostar co sacrílego gigante;

Como tu, junto ao Ganges sussurrante,
Da penúria cruel no horror me vejo;
Como tu, gostos vãos, que em vão desejo,
Também carpindo estou, saudoso amante.

Ludíbrio, como tu, da Sorte dura
Meu fim demando ao Céu, pela certeza
De que só terei paz na sepultura.

Modelo meu tu és, mas... oh, tristeza!...
Se te imito nos transes da Ventura,
Não te imito nos dons da Natureza.

Bocage, Opera Omnia, Livraria Bertrand

Fala apócrifa de Camões

É inútil buscarem o meu signo
Procurarem-me em ruas ou retratos
Sequer em grutas gritos manuscritos
Muito menos em fósseis ou falsas

pistas que de meus ossos não existem
É inútil julgarem-me comparsa
de quem quer que julgou viver comigo
já que em lugar algum terei passado

comigo mais que um prazo muito exíguo
mais ambíguo aliás e mais escasso
que o vivido com Bembo ou com Virgílio

com Petrarca Ariosto ou Garcilaso
Só estes os contei por meus amigos
E só de astros que tais rompe o meu rasto

   David Mourão-Ferreira, Obra Poética, Editorial Presença

Camões dirige-se aos seus contemporâneos

Podereis roubar-me tudo:
as ideias, as palavras, as imagens,
e também as metáforas, os temas, os motivos,
os símbolos, e a primazia
nas dores sofridas de uma língua nova,
no entendimento de outros, na coragem
de combater, julgar, de penetrar
em recessos de amor para que sois castrados.
E podereis depois não me citar,
suprimir-me, ignorar-me, aclamar até
outros ladrões mais felizes.
Não importa nada: que o castigo
será terrível. Não só quando
vossos netos não souberem já quem sois
terão de me saber melhor ainda
do que fingis que não sabeis,
como tudo, tudo o que laboriosamente pilhais,
reverterá para o meu nome. E mesmo será meu,
tido como meu, contado como meu,
até mesmo aquele pouco e miserável
que, só por vós, sem roubo, haveríeis feito.
Nada tereis, mas nada: nem os ossos,
que um vosso esqueleto há-de ser buscado,
iguais a vós de joelhos, porem flores no túmulo.

                                            Jorge de Sena

A Camões

Quando n’alma pesar de tua raça
a névoa da apagada e vil tristeza,
busque ela sempre a glória que não passa,
em teu poema de heroísmo e de beleza.
                   
Génio purificado na desgraça,
tu resumiste em ti toda a grandeza:
poeta e soldado... Em ti brilhou sem jaça
o amor da grande pátria portuguesa.
                   
E enquanto o fero canto ecoar na mente
da estirpe que em perigos sublimados
plantou a cruz em cada continente,
                   
não morrerá sem poetas nem soldados
a língua em que cantaste rudemente
as armas e os barões assinalados.

                    Manuel Bandeira

História, coração, linguagem

Dos heróis que cantaste, que restou
se não a melodia do teu canto?
As armas em ferrugem se desfazem,
os barões nos jazigos dizem nada.
                    
E teu verso, teu rude e teu suave
balanço de consoantes e vogais,
teu ritmo de oceano sofreado
que os lembra ainda e sempre lembrará.
                    
Tu és a história que narraste, não
o simples narrador. Ela persiste
mais em teu poema que no tempo neutro,
universal sepulcro da memória.
                    
Bardo, foste os deuses mais as ninfas,
as ondas em furor, céus em delírio,
astúcias, pragas, guerras e cobiças,
lodoso material fundido em ouro.
                    
Multissexual germinador de assombros,
na folha branca vieste demonstrando
e que ao homem, na luta contra o fado,
cabe tentar, cabe vencer, perder,
e nisto se resume a irresumível
humana condição no eterno jogo
sem sentido maior que o de jogar.
                 
E quando de altos feitos te entedias
e voltas ao comum sofrer pedestre
do desamado, não te vejo a ti
perdido de saudades e desdéns.
Luís, homem estranho, que pelo verbo
és, mais que amador, o próprio amor
latejante, esquecido, revoltado,
submisso, renascente, reflorindo
em cem mil corações multiplicado.
                    
És a linguagem. Dor particular
deixa de existir para fazer-se
dor de todos os homens, musical,
na voz de órfico acento, peregrina.
                    
Que pássaro lascivo se intercala
no queixume subtil de tua estrofe
e não se sabe mais se é dor, delícia,
e espinho, afago, e morte, renascença?
Volúpia de gemer, e do gemido
destilar a canção consoladora
a quantos de consolo careciam
e jamais a fariam por si mesmos?
(Amaldiçoado dia de nascer
que em bênçãos para nós se converteu!)
Já tenho uma palavra pré-escrita
que tudo exprime quanto em mim se turva.
                    
Pelos antigos e pelos vindouros,
foste discurso de geral amor.
Camões — oh som de vida ressoando
em cada tua sílaba fremente
de amor e guerra e sonho entrelaçados!
                    

Carlos Drummond de Andrade, A Paixão Medida,
Ed. Caminho