Apresentação

sábado, 30 de abril de 2011

Fala apócrifa de Camões

É inútil buscarem o meu signo
Procurarem-me em ruas ou retratos
Sequer em grutas gritos manuscritos
Muito menos em fósseis ou falsas

pistas que de meus ossos não existem
É inútil julgarem-me comparsa
de quem quer que julgou viver comigo
já que em lugar algum terei passado

comigo mais que um prazo muito exíguo
mais ambíguo aliás e mais escasso
que o vivido com Bembo ou com Virgílio

com Petrarca Ariosto ou Garcilaso
Só estes os contei por meus amigos
E só de astros que tais rompe o meu rasto

   David Mourão-Ferreira, Obra Poética, Editorial Presença

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